Ferramentas cognitivas
Leitura:” Computadores, Ferramentas Cognitivas” (capítulo 1), de Jonasen, D. (2007)
Entende-se por ferramenta cognitiva um conjunto de aplicações informáticas que permitam aos utilizadores (aqui entendidos como alunos) ampliar e reestruturar as suas estruturas cognitivas permitindo desenvolver o pensamento crítico e reflexivo conduzindo os sujeitos a um aprofundamento das matérias em estudo e permitindo que as aprendizagens sejam verdadeiramente significativas.
Parte do ensino, tradicionalmente entendido, parte do pressuposto de que os alunos aprendem “a partir de computadores ou a partir de professores”. Porém, partindo de uma perspectiva construtivista de entendimento da educação, o aluno é o construtor activo do seu conhecimento, da construção activa dos seus significados. Desta forma, as ferramentas cognitivas funcionam como “parceiros intelectuais dos alunos” de modo a os conduzirem a uma “aprendizagem de ordem superior”. E tal como uma verdadeira parceria, cada um dos parceiros disponibiliza as competências em que é superior, neste caso, tarefas como a efectuar cálculos e armazenar e recuperar informação, caberão aos computadores, ao passo que aos alunos caberá a responsabilidade de “reconhecer e julgar padrões de informação, organizando-a posteriormente”.
O uso do computador enquanto ferramenta cognitiva nunca se poderá limitar a um mero exercício em que o aluno aprenda passivamente a partir do computador, ou como um exercício de literacia informática em que o aluno aprende sobre computadores. Em ambas as situações o recurso ao computador na aprendizagem não torna essas aprendizagens verdadeiramente significativas: na primeira situação poderemos recorrer ao exemplo dos programas de repetição e treino (drill and practice) apoiados nos princípios behavioristas, tais programas “não apoiam, e muito menos proporcionam, o pensamento complexo necessário a uma aprendizagem significativa; na segunda situação (literacia informática), a aprendizagem é baseada na memorização e não numa actividade significativa que conduza a uma efectiva compreensão.
As ferramentas cognitivas são também um conceito apoiado numa abordagem construtivista que não se esgota nos computadores ou nas aplicações informáticas, mas que se referem a “qualquer outra tecnologia, ambiente ou actividade, que estimule os alunos à reflexão, (…) ao invés de reproduzirem o que alguém” (ou algo) “lhes diz” e lhes permita construírem seu conhecimento.
Segundo Jonasen uma aplicação só poderá ser entendida como sendo realmente cognitiva se obedecer a um conjunto de critérios:
- deverá ser baseada no computador;
- deverão ser aplicações generalistas e já disponíveis;
- o seu preço deverá ser acessível, até porque a maioria das ferramentas cognitivas estão disponíveis como software partilhado ou integradas em pacotes que já vêm com os computadores;
- deverão evidenciar a capacidade de permitirem construir e representar o conhecimento dos utilizadores;
- possuir a capacidade de serem utilizadas em diferentes ares do conhecimento
- estimular nos alunos o desenvolvimento do pensamento crítico;
- permitir e estimular que as aprendizagens possam ser aplicadas a outras áreas diferentes daquela que está em estudo;
- funcionarem tendo como base um formalismo simples mas simultaneamente poderoso exigindo “que os alunos pensem sob o ponto de vista causa-efeito”;
- que a sua manipulação seja simples e de fácil aprendizagem.
De outro modo, o mesmo autor defende que o uso das ferramentas cognitivas nas escolas se torna mais exequível do que outras aplicações informáticas devido a essencialmente três razões. A primeira, defende o autor, diz respeito à falta de software educativo tradicional. Esta falta prende-se não só com a quantidade, uma vez que o existente não cobre a totalidade do currículo escolar (apesar dos milhares de programas educativos existentes), mas essencialmente a nível da qualidade, já que praticamente todos eles não têm a capacidade de responder positivamente aos critérios de se constituírem como ferramenta cognitiva. Esta indisponibilidade prende-se também com a segunda razão apontada, as questões relativas aos elevados custos exigidos na utilização deste tipo de software pelas escolas. Por último, a terceira razão apontada é a eficiência. A eficiência é garantida pelo uso no uso mais eficaz do tempo e esforço, uma vez que, sendo as ferramentas cognitivas aplicáveis de forma generalizada a todos os cursos e disciplinas permitem que os alunos desenvolvam as suas competências dominando apenas um número restrito de programas.
Posto tudo isto que foi mencionado atrás, depreende-se que ao usarem ferramentas cognitivas para representarem o seu próprio conhecimento e significados, os alunos se envolvem positivamente em diferentes tipos de pensamento crítico e reflexivo. Se entendermos que fomentar estas competências deverá ser um dos objectivos da educação, o uso destas aplicações informáticas poderá ser preponderante no exercício da nossa actividade enquanto professores, ainda mais se valorizar-mos o uso do computador (fundamental na sociedade que se constrói actualmente) no processo de ensino mas sobretudo de aprendizagem.
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